Thursday, August 10, 2017

Cactus



Sunlight torments me inside
But nurtures cells and painful thoughts.
It also gives me light for reading.

Breathing in the pleasure from tall glasses
breathing out ghostly awes to the void.

I do not have to answer anything.
Have been a slave of words and letters, sentences
and punctuation, human sighs and looks
since I was a tiny girl.
Not anymore. I am not your slave.
I am not a kind person.
Do not count on me, do not speak to me, I will break your heart
or at least make you wait and never respond.

Birds, fish, clouds, earth... death.
I catch them with my sweaty hands
of a desperate minstrel trying to impress
and square pieces of metal, triangles, rust, sand
and broken glasses flow out of my unfortunate hands.
I wake up at noon and the hateful sun laughs at me.

I am building a wall, symmetrical, as the golden ratio.
You cannot hurt my wings, and inside
the liquor of pure delight
that no one can sip.
Neither can I.





Wednesday, August 02, 2017

Cantilenas em alto mar (parte 3)




VIII.

Veja as crinas brancas dos cavalos
que correm velocíssimos nas ondas do mar
Ouça o bramido de seus relinchos no fundo da existência.
Na canção do vento, épicos cavalos disparam no plano infinito
quando dobram os sinos dos pálidos cavaleiros da manhã,
os senhores do espaço.

E eu estou coberta de sonhos enevoados e palavras partidas.

IX.

O temor claro de uma manhã sóbria
me mata de não ter febre sob as estrelas.

X.

Sou um barco à espera da tempestade
um jóquei furioso com a perna quebrada
uma folha verde que caiu da laranjeira
e o dia é tão largo, insípido e aberto

sou uma vela que aguarda a escuridão.

XI.

Pedalo na madrugada verde e escura
entre árvores e cigarras que morrem
e o vento me escuta.

Cantilenas em alto mar (parte 2)




VII.

O céu, com a fronte coroada de sangue,
parte-se em pedaços sob o punhal das horas.

O Sol, que agora sonha, suspira poeira dourada
com todos os sorrisos brancos da Lua.

Um largo espírito de peixe livre de suas armaduras prateadas
habita o ermo solene da cúpula sílfica,
onde caçamos palavras mágicas, libélulas e flores brancas.


Cantilenas em alto mar (parte 1)




I.

Cavalos correm no deserto
e eu não pertenço a esta nação

II.

Um lençol branco se estendeu
nas colinas da minha mente.

III.

Pés leves e olhos aquáticos
flechas zunindo da água do riacho
pensamento insone, liberdade

IV

A batalha se estende nos campos mal lavrados
contra um exército fantasma que corrói a carne
de dentro para fora
parca razão de viver consumida lentamente
pelo fogo-fátuo do passado

Luta amarga, cavalgada em vau escuro

V.

Há dias em que cachos de madrepérola e algas verdes
enredam-se nos sulcos desencontrados do meu cérebro
ébria de esperança no caos questiono os seres do ar:
correrão pela praia os vórtices livremente?

VI.

Escurece mas ainda é cedo.
Um bando de albatrozes vem do mar, vem me buscar.

Uma face com grandes olhos me observa do horizonte
enquanto aves furiosas vêm me buscar.

Anoiteceu e esse deus maligno cobre o mundo
tocando um flautim anil no abismo da galáxia
enquanto gaivotas vêm me buscar.

Um esquálido coral entoa um Kyrie
enquanto o céu se precipita em pranto.

Uma cavalgada de borboletas tristes vêm me buscar.




Friday, November 11, 2016

Para Leonard



Faz um grande vazio no céu da minha cabeça
Mas não daqueles de noites sem estrelas
e sim um céu azul, gelado, banhado de um sol
de depois da chuva, em manhã de outono.

Uma despedida que não é de lágrimas
nem de adeuses prolongados, cansativos, doloridos.
É uma despedida que é riacho floresta abaixo,
gota de sereno adentrando o mar imenso,
poeta e guitarra decolando para um novo continente.

É a lua que, generosa e elegante, aceita a inexorável luz  dourada do dia.
É vento que traz e leva um perfume de jasmim no meio da rua.

Tuas palavras estão nos nossos ouvidos,
e nas mãozinhas das crianças, e nos ensaios da intelligentsia,
e nas velas que os monges acenderam para você.

Até mais, Leonard.
Em breve a noite chega, e a luz graciosamente aceita a escuridão.

Sunday, August 21, 2016

Vento, domingo



Amanheceu um dia de prata.
A chuva cantou, então se ausentou para descansar.
O sol desceu dentre as nuvens,
elegante, tímido, sonhador
e tingiu os prédios de uma luz envelhecida.

Manhã que debutou como se já fosse crepúsculo,
poesia que marejou meus olhos,
uma noite de verão beijou um dia de inverno.

E as nuvens roubaram, grávidas de água e vento,
a prata quase dourada da luz nos muros,
luz que se torna vítrea e azulada.
Uma tarde que é promessa de uma viagem, um amor,
um passado que faz as pazes com o futuro
cheio de folhas esvoaçantes, livros, caminhos, céus multicolores.

Delicadas são as forças do devir que agem no vento
Trôpegas como crianças são as palavras que a eternidade canta.

O mar aqui ressoa, oração, espelho, calmaria,
enquanto a ventania traz uma hora cheia de rebeliões do tempo.

Entardece e converge o dia para o abraço silencioso,
e, como uma harmônica de vidro,
um deus sentado nas pedras desenha um mistério.

Friday, May 13, 2016

Altocumulus




Que triste é o verão;
que triste é a canção efusiva e repetitiva de um céu azul
e a extenuante umidade calorenta

Quão doloroso é o olhar sobre uma estrada
perfeitamente pavimentada,
em que há mortes durante a madrugada;
para uma lagoa calma azulada
que, ao entardecer, solta fogos-fátuos
e outros elementos podres e silenciosos.

A totalidade da cor e a falsa permanência
são veneno para a mente,
são o sufoco da alma escrava dos sorrisos e oprimida pelos afetos
são a anestesia para um coração já embolorado
e embalado em açúcar de amores, requisitos e bom-dias.

O céu sempre azul - efusividade autoritária
O calor pleno e o ar imutável - a angústia de Prometeus
eternamente bicado pela ave de rapina.

Chegam as hostes de nuvens - chuva
vento e revolução
água no rosto, cabelos ao vento
O tempo se liberta,
o corpo se torna fogo e ar
-Respiro! Algo vai acontecer

Algo acontecerá, anuncia o Sacerdote Altocumulus,
pois tive um sonho que trouxe presságios,
algo acontecerá.

Tuesday, September 01, 2015

Hoje é dia de poema




Porque hoje está chovendo
Hoje é dia de se perder e temer.
Hoje é dia da coroação da Senhora Liberdade
e seus duendes alados beberão sangue em taças de ferro,
fadas tirarão a virgindade
de secos e inférteis intelectuais no meio da madrugada.


A noite será longa, mas curta demais para poetas.
Os músicos tocarão seus alaúdes e suas alabardas
e sangue humano será derramado.
Pássaros silenciarão, mas haverá pardais
e pombos famintos de manhã
e crianças sujas dissonando da música com urros de leite.


Morreremos em breve, mas lobos serão nossos cavaleiros
libélulas nossas daminhas de honra e
gatas, nossas madrinhas excêntricas.

Despeço-me da vida com a chuva que envolve a lua
nua, com seu véu de seda aquático
E renasço amanhã com a memória macia
da música e do vago terror
de ser livre, puro e não ambíguo.

Sunday, July 12, 2015

Dança de vento e sal



Meus movimentos de asas se alimentam
de seus olhares de despeito vermelho
e de suas bocas inchadas de maledicência.

Minha pele é armadura como exoesqueleto de libélula
e meus olhos são os dos felinos à noite.
Conjure feitiços, e eu os cortarei
tal como a chuva dissipa a fumaça negra da morte.

Danço cada vez mais alto, e sobranceira
despeço-me de toda a gente ignóbil, as lagartas,
as comadres na janela e vadios de taverna
que um dia serviram ao meu lado, aos mesmos capitães.

A cada maldição, meu sopro de arte.
A cada flecha envenenada, meu passo de fanfarra.
A cada sussurro negro, minha canção em letras douradas.

Tal como Ariel, danço nas areias, no sal do tempo,
na luxúria do vento, no caminho da floresta imaculada.